domingo, 27 de fevereiro de 2011

DESAMOR E TRAIÇÕES NA POLÍTICA BRASILEIRA

Não são poucos os fulanos que traíram sicranos ao longo da História.

João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história. O poema do inesquecível Carlos Drummond de Andrade lembra um pouco o tema a ser discutido aqui. O amor não correspondido de alguns de políticos lembra “Quadrilha”, estes lindos versos do poeta – que fique bem claro. Não são poucos os fulanos que traíram sicranos ao longo da História. A síndrome de Frankenstein – da criatura que se volta contra seu criador – é recorrente. O exemplo clássico é Judas – que pelo menos se arrependeu – depois de trocar a confiança de Jesus por 30 moedas de prata. Cerca de 70 anos antes Brutus traíra Cesar. 1789 anos depois de Cristo, Joaquim Silvério dos Reis faria o mesmo com Tiradentes – embora houvesse a atenuante de ele não ser brasileiro. Mas o fato é que pupilos traem seus mestres. Na história recente da política brasileira, os exemplos pululam (sem trocadilhos). Em 82, o chaguista Miro Teixeira percebeu que fraquejava a força política liderada pelo jornalista e empresário fluminense Antonio de Pádua Chagas Freitas e bandeou-se para os lados de Leonel de Moura Brizola que conquistava as massas com seu discurso novidadeiro de recém anistiado. Brizola também conheceria o gostinho amargo da traição quando seu protegido, Cesar Maia, então considerado um gênio da Economia, romperia com o chefe para apoiar o equivocado plano econômico de Fernando Collor em 90. Anos depois, já prefeito do Rio de Janeiro, o economista erraria feio na conta de Matemática no episódio “Cidade da Música”. Traição maior, no entanto, Brizola creditou a Dilma Rousseff – atual candidata do PT à presidência. Dilma foi alfabetizada politicamente por Brizola – segundo palavras de Alceu Collares – a quem conheceu nos anos 70. Em 2000, um racha entre petistas e pedetistas durante o governo de Olívio Dutra a fez abandonar o PDT. E Brizola diria: “Dilma é uma traidora em busca de cargos”, uma vez que ela se recusou a devolver o dela no primeiro escalão do Governo gaúcho ao partido. Se Rousseff já tomou um grande susto no recente escândalo com Erenice Guerra e família, o mesmo não se pode dizer de velhas raposas da política brasileira. Em São Paulo, Paulo Maluf lançou seu secretário de Finanças (!) Celso Pitta candidato a prefeito: “E se ele não for um bom prefeito, nunca mais votem em mim”, dizia. Eleito em 96, Pitta rompeu com Maluf como primeiro ato de governo. Velha raposa da política, Maluf disparou: “Eu confiei no Pitta sim e ele errou. Ele traiu a população de São Paulo, não a mim”. Maluf levou aquilo que na linguagem futebolística chama-se de “uma bola nas costas”. De volta a Cesar Maia, podemos dizer que desde 1999 ele procura a pelota no drible “elástico” que levou de sua criatura Luiz Paulo Conde que passou a jogar no time de Anthony Garotinho – atualmente inelegível. Sobre Conde, Maia disse: “A Ginger Rogers achou que podia operar solo e fez só um filme. Quem é Conde mesmo? Tentou voltar em 2004 e ficou lá atrás na votação”, conclui comparando-se a Fred Astaire. Mas traição não é privilégio do sul maravilha. Ministro dos Transportes de Sarney e governador do Maranhão de 2002 a 2006, José Reinaldo rompeu com seu mentor em 2004. Tudo começou com uma briga entre a (então) mulher dele Alexandra e Roseana – a filha do hômi – que a (então) primeira-dama insistia em chamar de “sinhazinha do Calhau”. Não convidem as duas para o mesmo jantar. Pupilos traem seus mestres. Candidata a deputada federal, Alexandra não ama Zé Reinaldo que não ama Sarney que não ama Maluf que não ama Pitta que não ama mais ninguém. E assim foi com Conde que detestou Maia que detestou Brizola que detestou Chagas que detestou Miro. Uma “Quadrilha” – os lindos versos de Drummond.


O texto Desamor e traições na política brasileira é de autoria do jornalista Claudio Carneiro, sócio da Clio Assessoria.

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